Aprimore a criação do seu roteiro em alguns toques
(imagem sob licença Adobe Stock)
Como aprimorar a criação do seu roteiro em alguns toques? Existe uma maneira correta de criar um roteiro? Aqui, a gente te dá dicas de como seu script pode ficar mais redondo - mas não necessariamente enxuto. Saiba por quê.
Depois dos primeiros passos
Depois de ler esse texto aqui, você se empolgou e escreveu uma penca de roteiros. Mas não adianta: por mais que você os leia, releia e reescreva, seus roteiros ainda não te parecem bons o suficiente. Nada a ver com o roteiro de O Sacrifício (1986), do cineasta russo Andrei Tarkovski, ou de O Processo de Joana D’Arc, do diretor francês Robert Bresson.
Calma!
Um roteiro não é escrito uma única vez. Ele recebe vários tratamentos ao longo do processo. E existem certos pontos que, se bem observados por você, vão fazer a diferença na construção do seu texto para cinema ou TV. Vamos a eles.
Alguns toques sobre a criação de um roteiro
Como já dissemos num texto anterior, um roteiro é estruturado de forma a contar a trajetória de uma personagem que vai passar por uma transformação ao longo da história.
Atos
Para isso, o roteiro é dividido em três atos: a introdução, em que o protagonista e sua situação são apresentados; o desenvolvimento, quando surge um conflito que vai mudando sua trajetória; e o desfecho, que mostra como essa mudança afeta a personagem e define a história.
Entre cada um dos atos, há uma cena crucial, chamada plot twist, que traz uma reviravolta ao curso dos fatos anteriores. O primeiro plot twist indica o início da transformação da personagem; o segundo introduz o desfecho dessa transformação.
Trecho do roteiro de O processo de Joana D'Arc, que aparece no trailer do filme (acima)
Quanto tempo dura uma cena?
Outro ponto importante é ter uma noção de quanto tempo dura uma cena (ou um conjunto de planos que mostra uma ação acontecendo).
Há uma convenção cinematográfica que diz que uma cena deve ter em média 2 minutos. É claro que isso é variável. O cineasta dinamarquês Lars Von Trier, que costuma declarar fazer filmes incômodos, mas necessários, e que mais ninguém faria, é um mestre no prolongamento de cenas até o limite do (in)suportável.
Mas, se pararmos para calcular a maioria dos filmes que assistimos no cinema, vamos constatar que essa média de 2 minutos por cena é mais regular do que parece. Mas como você vai calcular o tempo da sua cena quando ela ainda está apenas no roteiro?
Como calcular o tempo de uma cena no roteiro
A cineasta Anna Muylaert dá o toque: 1 minuto de cena filmada costuma ocupar 1 página A4 escrita. Ou seja, para cada minuto do seu filme, você vai escrever em média uma página A4. Isso significa que se você fizer um filme com 1h30 de duração, vai ter 90 páginas de roteiro.
Significa também que uma cena ocupa em média 2 páginas do seu roteiro. Então, faça o teste: leia seu roteiro em voz alta, fazendo as pausas enquanto imagina as ações acontecendo na cena. Se durar cerca de 2 minutos, você está num bom caminho.
Faça um gráfico de emoções
Uma métrica que começou a ser usada mais recentemente é o gráfico de emoções. O que é isso?
Para fazer um gráfico de emoções, você deve ler cada cena e apontar a emoção predominante nela. Uma cena pode ser muito triste, outra, tensa; e a seguinte, extremamente engraçada.
Depois que você alinhar essas emoções numa linha do tempo das cenas do seu filme, você pode observar se há um equilíbrio das emoções suscitadas por cada sequência. Se você agrupa cinco cenas tensas uma após a outra, o público pode sair exaurido do cinema. Se, por outro lado, você faz uma sequência de cenas em que nada acontece, o espectador pode dormir na poltrona.
Uma boa alternativa é intercalar emoções opostas, para surpreender e manter o espectador conectado ao enredo.
O roteiro não precisa ser totalmente enxuto
Você agora está pensando: “vou escrever minhas cenas com apenas duas páginas e nada mais que isso!” Mas o roteiro não funciona bem assim.
Apesar de haver uma métrica média de duração de cenas e do número de páginas do seu roteiro em relação aos minutos do seu filme, é bom escrever cenas um pouco mais longas, com alguma “gordura”.
Anna Muylaert explica que, se você fizer um roteiro muito enxuto, pode chegar na mesa de edição sem opções de planos e quadros para fazer uma boa montagem da cena.
Portanto, seja generoso em seu roteiro: se, depois de ele ser filmado, sobrarem falas ou ações, elas podem ser cortadas. Mas se não houver opções de imagem para dar criatividade à montagem, a cena pode acabar desinteressante ou até incompreensível.
Um toque final
Tá, a gente sempre fala aqui que produzir criativamente envolve sempre algum risco. Não adianta achar que você encontrou a fórmula mágica e vai poder repeti-la para o resto da vida. A graça de fazer arte (entre elas, o cinema) é buscar sempre uma nova maneira de contar velhas histórias.
Isso quer dizer que tudo o que dissemos acima vale como um bom começo, pra você ir experimentando a escrita do roteiro enquanto não é ainda um profissional. Mas a gente quer te ajudar nessa trilha. Começando te dando alguns toques, indicamos especialistas e logo mais você cria seu próprio estilo e método.
A gente te dá a mão nesse caminho! Venha!