Como construir um bom personagem ficcional? Descubra as dicas para compor protagonistas de sucesso no seu roteiro
3 DICAS de ouro sobre composição de personagens utilizadas pela premiada diretora e roteirista Anna Muylaert em seus filmes.
Anna Muylaert é um dos maiores expoentes do roteiro e da direção do país. Seus premiados filmes como "Que Horas Ela Volta?", "É proibido Fumar", "Durval Discos" e tantos outros encantam o público brasileiro e internacional.
Reunimos, aqui no Blog NAVEGA , três dicas fundamentais que Anna preparou para te ajudar a construir personagens potentes, inspiradores e impactantes, capazes de levar os espectadores a viverem histórias inesquecíveis.
Confira abaixo as dicas para compor os seus personagens:
DICA 1: O protagonista é a semente da história
"A história é a árvore de uma semente. A semente é o personagem".
Anna destaca a importância do protagonista na condução das cenas e atos do roteiro e explica que todos os demais personagens vão surgindo a partir das necessidades e contextos do personagem principal.
Assim, a história se desenvolve a partir da semente que é o protagonista, suas angústias, suas questões e daí constrói-se uma teia de relações deste com os demais personagens que vão surgindo e se ramificando sempre ajudando no avanço das cenas tendo como base a trajetória do personagem principal.
Em seu aclamado filme "Durval Discos", Anna conta a história de um homem se libertando mãe. Assim, a cineasta optou por uma estrutura narrativa que chama de “filme de mala de dinheiro”, em que o personagem honesto encontra uma mala de dinheiro e, quando se dá conta, já está envolvido numa história de roubo. Neste filme, a "mala de dinheiro" é uma criança. Junto com a criança, vem a babá. Mas há também a vizinha, vivida por Marisa Orth, personagem que representa “o outro”, ou seja as pessoas que a mãe não quer que cheguem perto do seu filho. Tudo se move em torno do personagem principal e as questões a serem superadas por ele.
Assista também ao trailer e ao filme "Que Horas Ela Volta?" e perceba que todos os personagens criados por Anna têm uma função muito clara no filme que tem a ver com trajetória da protagonista principal, a Val. Todos os personagens estão de algum modo relacionados à ela e todos são fundamentais para levar a trama adiante.
DICA 2: Fuja de estereótipos e maniqueísmos
Em geral, em uma primeira versão do roteiro, os personagens são "flat", atendem a um padrão social. Com o desenrolar da trama, Muylaert sugere que o roteirista promova uma quebra de padrões e estereótipos, humanizando cada um dos personagens. O roteirista principiante deve ficar atento à tendência de criar estereótipos, prática comum no cinema e na TV.
Por exemplo, para romper com a lógica de padrões de beleza e de papeis sociais, é possível escalar um elenco que ajude a quebrar tais estereótipos: “o personagem do pai pode ser gay, a bonita pode ser gorda ou magra demais”, menciona Muylaert.
Em "E Além de Tudo me Deixou Mudo o Violão", telefilme que Muylaert escreveu e dirigiu, há uma personagem adolescente, Érika (Daniela Piepszyk), filha de uma mãe alcoólatra. Em uma cena Erika vai visitar o pai, já separado da mãe e casado novamente, mas não com uma mulher, o que seria o mais comum. Desta forma, é possível criar personagens que quebram com o esperado e consequentemente com os estereótipos. A narrativa do filme também se torna mais ousada e interessante.
Cena de "E Além de Tudo Me Deixou Mudo o Violão" (2013) / Fonte: Divulgação
DICA 3: Encontre a humanidade de seu personagem
A desejada quebra de estereótipos e fuga das simplificações nos personagens, Muyalert adiciona um ingrediente especial: a essência humana e suas inevitáveis contradições. A protagonista de "Que Horas Ela Volta?", por exemplo, a despeito de todo seu encanto e afeto, vive o drama de ter deixado sua filha no Nordeste quando se mudou para São Paulo em busca de sustento. Assim, o roteirista vai desenhando as complexidades de cada personagem e suas muitas camadas tendo como meta humanizá-los
Portanto, uma recomendação é sempre tentar escavar profundamente o que move seu protagonista e os demais personagens, compreendendo suas especificidades, sua humanidade. Um vilão não precisa ser apenas um vilão no sentido tradicional, ele pode apresentar fragilidades em algum momento da trama e isso torna o personagem e a narrativa mais próximos da realidade, da vida. A dica é olhar para todos os personagens contemplando a suas perspectivas humanas e acolhendo suas complexidades e contradições.
Não há uma fórmula
O essencial é tentar fazer com que seus personagens sejam libertários e quebrem os padrões.
De forma geral, adota-se como parâmetro a representação do mundo e das pessoas da forma como surgem no cinema e na TV que em geral apresenta vários estereótipos. Anna acredita que uma das funções do roteirista, do diretor e de quem trabalha com audiovisual é quebrar os padrões e trazer os personagens para perto da realidade com todas as suas complexidades e, consequentemente, para uma libertação dos padrões e dos estereótipos.
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