Como dar título ao meu texto ou livro?
Marcelino Freire, escritor vencedor do Jabuti, ensina como escolher um título para sua obra
Marcelino Freire reúne indicações valiosas nesse momento crucial de trabalho do escritor: batizar sua obra. A leitura de poesias pode inspirar bons títulos para livros, capítulos ou textos.
Quem é o melhor interlocutor para me orientar a respeito de títulos?
A grande poetisa Clarice Lispector não era boa em títulos. Para nomear suas obras, costumava recorrer ao amigo Fernando Sabino. Certa vez ela perguntou ao escritor o que ele achava de “A veia no pulso” como título para um romance. E recebeu críticas de Sabino por causa da cacofonia “Aveia no pulso”. Clarice mudou para “A maçã no escuro”, livro premiado como o melhor romance brasileiro de 1961. Muitos anos depois alguém pediu a opinião de Marcelino Freire sobre o título “Uma mão, numa mão”. A cacofonia divertiu Freire, que respondeu: “O que é isso? Salada de frutas?”
Em vista desses exemplos, ele recomenda aos iniciantes ter um ou mais interlocutores com quem você possa trocar opiniões sobre suas obras e títulos. "Mas não se deve escolher a própria mãe, que sempre acha tudo muito bonito", ele lembra com humor.
“Para se chamar Solidão, a poesia tem de ser muito boa, pois você já entregou tudo lá na frente”, conta Marcelino Freire.
Como poesia é algo difícil de titular, além das cacofonias também devem ser evitadas algumas palavras. Solidão, por exemplo. O título revela o conteúdo. Dadas essas dificuldades, o autor pode deixar os poemas sem título. Ou apenas numerá-los. Marcá-los só com letras também é uma opção.
A publicação de poemas sem títulos, ou apenas numerados, conforme sugere Marcelino Freire, está longe de ser uma raridade. Basta ver pela obra de Paulo Leminski, ou de Cecília Meirelles.
Navegue até a ilha
Às vezes o título tem apenas uma palavra. Marcelino gosta muito de “Guardar”, título de um livro do poeta Antônio Cícero: “A palavra ficou linda no meio da página”, como uma ilha. Marcelino Freire também comenta que a palavra angústia, em princípio, não seria boa para intitular uma obra, a exemplo de solidão. No entanto, “Angústia” é outro livro clássico e o nome se justifica porque Graciliano Ramos, a partir de um título tão resumido, construiu algo muito maior.
Leia os poetas
Marcelino Freire diz que "Eles resumem os destinos da humanidade, os sentimentos todos da humanidade. Da inveja, do preconceito, da solidão. Às vezes em um verso. E às vezes é desse verso que você está precisando para o título do teu romance”. Para encerrar, ele recomenda ao escritor iniciante ler muita poesia para ir atrás de títulos. Com essa finalidade, versos de Cecília Meireles já deram bons nomes para romances de Ligia Fagundes Telles e de Luiz Ruffato, por exemplo.
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