Como financiar um filme? O que você precisa saber

O produtor Rodrigo Teixeira fala sobre os desafios do financiamento cinematográfico, retorno e risco para o produtor, além das diferenças entre o modelo brasileiro e o norte-americano  

Rodrigo Teixeira em sua produtora RT Features


Rodrigo Teixeira, sócio da RT Features e produtor de filmes premiados no Oscar, Cannes e Sundance, conta tudo o que pode destacar de sua experiência em Film Business no Brasil e no exterior. Aqui, você vai descobrir quais são as questões-chave para obter financiamento no Cinema. 

A questão do convencimento

É difícil convencer alguém a investir dinheiro privado num filme no Brasil, pois os investidores sabem que há a possibilidade de utilizar dinheiro incentivado disponível no país. Em seu curso de Produção Criativa para Cinema, Rodrigo Teixeira conta que a dificuldade está em contar com um investidor ou financiador privado para adiantar o fluxo de caixa para um projeto cinematográfico sem fornecer garantias de que este investidor seja recompensado financeiramente no futuro.

As opções no mercado brasileiro

O dono da produtora RT Features diz que ou você tem um projeto forte com um ótimo plano de negócio e convence alguém a entrar com dinheiro de risco no seu projeto ou o caminho é buscar investimento via incentivos fiscais ou financiamento de editais e fundos públicos. 

Segundo Teixeira, o único investimento que vale a pena entrar com capital de risco, neste caso, é no desenvolvimento de novos projetos. Assim, se você for dono da propriedade intelectual, ou seja, se firmar termos de cessão de direitos de um livro ou de um argumento, isso significa que o produtor ou o investidor tem boas chances de receber seu dinheiro de volta num prazo financeiramente interessante. As taxas de juros, apesar de terem caído um pouco, continuam muito mais altas do que em outros lugares, o que desmotiva o investimento de risco.

Pegar dinheiro privado para realizar filmes hoje, com a mentalidade de dinheiro incentivado, não é o melhor negócio no Brasil, diz Teixeira.

Cena de "Alemão" (2014), filme da produtora RT Features / Fonte: Divulgação 


E no mercado norte-americano?

Nos Estados Unidos, o negócio é completamente diferente. É uma compra e venda de risco. Se é um filme de estúdio, este é quem paga o projeto e assume o risco. Se o filme fizer dinheiro, o estúdio ganha e o produtor também ganha.

Quando você quer produzir ou está produzindo um filme independente, você pode apresentar a ideia, um material de venda do filme para os estúdios e as distribuidoras e eles podem querer comprar o filme. Ao comprar, não estão tirando o filme de você, estão adiantando receitas futuras dentro de uma mecânica de mercado, a partir de uma previsão de receitas que o filme pode gerar. É uma aposta a partir da experiência de mercado que os estúdios e as distribuidoras possuem naturalmente.

Se o filme ficar bom, você pode vendê-lo para mais distribuidores e, se achar que o resultado ficou ruim, pode vender mais barato. Neste caso, a ideia é tentar minimizar o prejuízo. Se o filme for bem de bilheteria, o produtor ganha um bônus dos estúdios.

Cena de "O Farol" (2019), da produtora de Rodrigo Teixeira / Fonte: Divulgação 

 

Recursos próprios na produção de filmes no Brasil? 

Teixeira afirma que a cadeia do cinema nacional é financiada pelo incentivo fiscal, incluindo desenvolvimento, produção e distribuição. Desta maneira, o distribuidor no Brasil prefere fazer uso das verbas de incentivo ao invés de investir recursos próprios.

Se compararmos os mecanismos de investimento e financiamento na indústria dos Estados Unidos e do Brasil, veremos que são formas muito diferentes de encarar os desafios de mercado.

E como obter dinheiro privado para financiar filmes?

- adiantamento de cash-flow (fluxo de caixa);

- compra de IP (propriedade intelectual) que você possa vender futuramente;

- ou investimento em P&A (Prints & Advertising), ou seja, investimento em custos de comercialização do filme quando ele já está pronto.

O dinheiro destinado ao “P&A” tem um retorno mais vantajoso para o investidor pois este recurso entra quando o filme já está bem adiantado. Isso permite que o investidor possa compreender melhor o potencial de sucesso do filme nas bilheterias, além do que o prazo de retorno do investimento é bem menor por estar mais próximo ao lançamento. Assim, para o investidor privado, é mais vantajoso investir na comercialização de um filme do que na sua produção. Investir na produção de um filme significa muito mais risco e incerteza dos prazos de retorno do investimento: os custos de produção podem estourar, a montagem pode se estender por meses e há o risco de que o filme não fique bom o suficiente.

Cena de "Tim Maia" (2014), filme da produtora RT Features / Fonte: Divulgação  

 

Negócio de alto risco

Seguindo esses motivos, Teixeira atesta que Cinema é um negócio de alto risco. Mas é também um setor com altas expectativas de retorno quando um filme dá certo. Em seu curso de Produção Criativa para Cinema, Rodrigo Teixeira cita exemplos de como sua produtora lida com a questão do financiamento e com a negociação, tendo casos de sucesso e de falhas. O filme “Alemão” (assista ao trailer), produzido pela RT Features foi lucrativo. Já no caso do seu  seguinte, “Tim Maia”(assista ao trailer) , a produtora quase quebrou. Como Teixeira resume, “O empreendedorismo tem um certo limite”.

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