Criação de personagem: conceito e método
(crédito: Bigter Choi por Pixabay)
Para o ofício do ator, montar personagens é um saber fundamental. A partir da composição de tipos, o profissional de atuação dá vida ao texto teatral ou ao roteiro audiovisual, num processo que engloba aspectos psicológicos e físicos.
Como funciona a criação de personagens? Alguns tópicos a seguir dão o caminho das pedras da interpretação.
O que é criação de personagem?
Quando o ator recebe um texto ou roteiro, precisa transpor as ideias do autor e sua própria visão da personagem para sua atuação. Essa tarefa é a criação de personagens
É preciso levar em conta a ideia do texto, as particularidades que ele quer imprimir à sua caracterização e a concepção do diretor com quem trabalha.
Construção de personagens na prática
Para isso, existem vários métodos e dinâmicas que englobam exercícios físicos, vocais, leitura e divisão do texto em intenções dramáticas, criando a chamada “partitura” da personagem.
Esse processo tem por objetivo fazer com que o ator aos poucos absorva o psiquismo, a postura corporal, a voz e a gestualidade da pessoa fictícia.
A composição dessa personalidade e desse corpo são coerentes entre si e permitem que o ator não finja ser outra pessoa, mas incorpore de fato outra personalidade.
Isso se dá a partir de seu próprio material humano, sem confundi-lo com a personagem.
Como definir o perfil da personagem?
A personagem tem aspectos diversos, que são a base para o ator enveredar em sua construção.
Os aspectos físicos somam-se a aspectos psicológicos, sociais, profissionais e familiares da personagem, e são encontrados no texto e pelas orientações do diretor.
A partir daí o ator vai remodelar seu corpo e gestos, sem medo de experimentar possibilidades para evitar cacoetes e a imitação. É preciso encarnar a personagem e “sair” da postura costumeira.
Métodos mais conhecidos
Ao longo da História do Teatro e do Cinema, alguns métodos de atuação ficaram famosos. O mais utilizado é o do ator russo Constantin Stanislavski (1863-1938), baseado na naturalidade e na busca por intenções a partir do íntimo do ator, ao contrário do maneirismo típico de sua época.
Outro método é o do dramaturgo e ator francês Antonin Artaud (1896-1948), que visava a quebra da “quarta parede” (a divisão imaginária entre o palco e a plateia) e a integração de atores e público. O grito, a respiração e o corpo seriam a base do chamado Teatro da Crueldade.
Em seu Teatro Épico, o dramaturgo e diretor alemão Bertolt Brecht (1898-1956) pregava que os atores devem atuar causando estranhamento na plateia, com gestos exagerados. Assim, o público se mantém atento à mensagem do texto e não consome a peça como produto, crítica marxista à arte como entretenimento.
Você também pode criar exercícios e dinâmicas a seu gosto, que te ajudem a desenvolver a caracterização de tipos de forma orgânica.
Pronto para ensaiar?
Agora é só colocar corpo e mente para funcionar e começar os ensaios! O intérprete deve procurar seu processo por meio de pesquisa, estudo e da compreensão da natureza humana.
Para cada ator, há inúmeras soluções e intenções interpretativas que correspondem à infinita variedade do material humano. Quanto mais ensaia, mais o ator dá vida a esse outro ser teatral.