Descomplicando o roteiro cinematográfico com Anna Muylaert
Quer ver como você vai achar fácil fazer roteiro cinematográfico? É só seguir o passo a passo experimentado e aclamado de Anna Muylaert, cineasta de Que Horas ela Volta? (2015) e Durval Discos (2002).
Em seu curso Navega de Roteiro Cinematográfico, a diretora e roteirista parte de sua experiência profissional para contar quais são os passos de um roteiro e como você pode pensar neles sem complicação. Vamos nessa!
O roteiro como corpo
Em seu curso Navega, Anna Muylaert define o roteiro como um corpo humano. Suas partes são:
Esqueleto/ Estrutura
O esqueleto do corpo humano é aquilo que o mantém em pé, que organiza suas partes. No roteiro cinematográfico, o esqueleto é a estrutura. “Para mim é muito importante que os ossos sejam sólidos.Uma vez compreendidos, são fixos”, diz Anna.
Em texto e dicas da Anna, nós já vimos no nosso blog que essa estrutura é a história, ou a jornada do herói.
Essa história tem 3 atos, que são a introdução da vida da protagonista, a transformação e/ou os desafios pelos quais ela vai passar e o desfecho desse processo. Entre cada um dos atos, uma cena traz uma reviravolta aos acontecimentos.
Depois de delineada, essa história é dividida em atos, que são divididos em cenas. Fazer uma Sequence Approach, espécie de divisão clássica dos atos em certos números de cena, também é uma boa pedida. Anna costuma usar notas adesivas (post it) para organizar suas cenas num painel. Ali é possível enxergar os três atos e as cenas que compõem cada um deles.
Para Anna, se um filme tem essa estrutura bem resolvida, fica fácil montar sua carne. Mas o que é a carne num roteiro?
Carne/ Cenas + Diálogos
O que recobre o esqueleto num corpo é a carne. Para Anna, num roteiro a carne equivale à escrita das cenas, com suas ações, contextos e diálogos. Se a estrutura do roteiro está bem construída, fica fácil criar os conteúdos das cenas. “A carne tem que ter coerência, que é a estrutura das cenas, dos diálogos”, explica a roteirista.
Uma dica da diretora: para escrever seus diálogos e até o silêncio significativo de suas personagens, leve sempre em conta que cada personagem tem uma forma de falar e, principlamente, que “o cinema vem da ideia de movimento”.
Como o Brasil é um país com excelência em telenovela, em que o andamento das cenas é muito mais baseado em diálogos estáticos gravados em plano e contraplano, o cinema nacional acabou contaminado por essa tendência.
Uma forma de subvertê-la é criar cenas em que os diálogos acontecem durante alguma atividade, seja a personagem cozinhando, passando roupa, fazendo ginástica, comprando um livro. Intercalar uma cena mais parada com outra mais agitada faz com que seu filme ganhe ritmo.
Cabelos, roupas, etc./ Acabamento
Nosso corpo já tem esqueleto e carne. Aí a gente quer vesti-lo, arrumar seu cabelo, colocar adereços. Essa é a parte do acabamento do roteiro, em que você pode dar seu toque estilístico a partir de sua experiência. “Você tem que saber qual a medida, o que é fixo e importante pra contar sua história e o que tanto faz, o que é puro tempero”, ela afirma.
Solte sua criatividade!
Como Anna mesma diz, é preciso conhecer o be-a-bá do roteiro para que ele seja sólido. Mas é preciso também soltar a criatividade para que, além de estrutura, seu roteiro tenha seu toque pessoal e encante os espectadores.
Para isso, não existe fórmula. Tente, invente e crie seu modo de fazer! Sua visão de mundo é o ponto de partida de um cinema inovador.