Fé cênica: a verdade na interpretação teatral

(imagem licenciada por Adobe Stock)

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Como chegar a uma interpretação teatral que emociona a plateia? Se num texto anterior tratamos da construção de personagem, aqui vamos analisar uma das premissas básicas para o ator atingir seu público em cheio. São os conceitos de fé cênica e verdade teatral. 


O que é a verdade na interpretação teatral?


Quando um ator entra em cena, dizemos que ele dá vida a uma personagem. Isso quer dizer que não basta ele fingir que é outra pessoa. Ele precisa realmente “ser” outra pessoa, acreditar tanto em quem ele interpreta a ponto de convencer os espectadores. 


Dessa forma, ele passa a sensação de verdade para o público, que se emociona de fato com sua jornada. Como dizia o filósofo grego Aristóteles na Poética, o teatro tem por função “causar a dor e a piedade na plateia”.

Ou seja, o espectador acredita tanto na peça que se envolve com a personagem, sentindo aquela história como se fosse sua. Isso acaba por trazer um alívio para as pessoas, que comparam suas vivências com as da história. 


Então, quando falamos de verdade cênica, estamos falando de uma verdade crível a ponto de emocionar, mas que não existe de fato além do palco. Falamos de atores que interpretam seus personagens com tanta convicção que a plateia vê a peça como um recorte na vida de pessoas reais. Não como imitação. 


Para chegar a isso, o ator precisa compartilhar um universo comum com a personagem, pensar como ela, sentir como ela. Diz-se em teatro que o ator deve “entrar na pele” da personagem. Como isso é feito?

 

 

Técnicas de aprendizado da interpretação teatral

Existem tantas técnicas de interpretação quanto atores na Terra. Não há fórmula mágica. Mas um ponto de partida interessante é pensar que, para entrar na pele de alguém, temos que conhecer muito bem esse ser fictício, como se fosse a gente mesmo, embora não seja totalmente igual. Gestos, voz, postura mudam a partir de muito ensaio.


Algumas dinâmicas ajudam o ator a mesclar sua maneira de falar e agir a um modo parecido com o que outra pessoa faria:


  • Dividir o texto, atribuindo as emoções contidas em cada parte
  • Criar gestos que vão sendo incorporados às cenas
  • Buscar os momentos em que a emoção toma conta e perceber quais são essas emoções
  • Comparar as próprias emoções nas situações vividas pela personagem
  • Pensar como uma pessoa com as características da personagem se sentiria em determinadas situações, tentar se colocar no lugar desse “outro” fictício

Depois de criar esse “caminho” físico e emocional pelo texto, é preciso ensaiar muito, a ponto de fazer os movimentos e as intenções naturalmente, sem pensar. É o que se chama de incorporar a personagem.

Aí o ator acaba por “acreditar” que é outra pessoa. Nesse ponto, ele não está mais fingindo, mas vivendo outra vida, preenchido de fé cênica. E é sobre esse conceito surgido na Rússia há mais de um século que vamos falar agora.


Stanislavski, o pai da Fé Cênica

Foi o ator e diretor russo Constantin Stanislavski (1863-1938) que criou o conceito de fé cênica. Antes dele, a performance dos atores russos era muito exagerada. Pouco baseada em emoções reais, era determinada mais por convenções cênicas. Ficava tudo muito forçado.


Na virada do século 19 para o 20, com o avanço da ciência, a criação da psicanálise por Sigmund Freud e a imagem em movimento que culminaria no cinema, cada vez menos as pessoas se convenciam com essas interpretações maneiristas.

Stanislavski então criou seu célebre sistema, que propunha uma série de dinâmicas de expressão corporal, voz, leitura de texto e afins para aproximar o ator da fé cênica.

Isso nada mais é que a compreensão tão profunda da personagem por parte do ator que ele realmente acredita em sua interpretação, como se fosse mesmo o ser fictício que ele interpreta. 


Portanto:

Para encher seus papéis de fé cênica, essas dicas acima são muito importantes. Mas seja também um bom observador do mundo e das pessoas.

Converse com pessoas que têm profissões e estilos de vida parecidos com o da personagem, pesquise situações e períodos históricos e não se canse de ensaiar para chegar a uma interpretação cênica orgânica e cheia de verdade


Dessa forma, você vai emocionar seu público partindo da sua própria emoção. Experimente-se, pratique sua fé cênica e encante a plateia!

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