Movimentos de câmera: como dar ritmo ao seu filme

(imagem sob licensa Shutterstock)

 

Os movimentos de câmera são recursos narrativos fundamentais. Além  de dar dinamismo e ritmo a um filme eles ajudam a contar a história. Junto com os enquadramentos, criam inúmeras possibilidades de captar uma cena de forma expressiva e emocionante. Quais são os movimentos de câmera e como você pode usá-los para passar as ideias do seu roteiro?

Movimentos de câmera X enquadramento

Qual a diferença entre movimento de câmera e enquadramento? O movimento da câmera aproxima, afasta, percorre um caminho ou leva a imagem de um lado para o outro vertical ou horizontalmente.

Já o enquadramento especifica que tipo de recorte a imagem terá: mais aberto ou fechado, de cima para baixo, de baixo para cima ou no mesmo plano do espectador. Aqui, não vamos abordar ainda o enquadramento de cinema e vídeo, mas aguarde: em breve falaremos do tema. 

O que podemos adiantar é que o movimento de câmera e o enquadramento são duas funções operando no mesmo sentido: criar climas, sensações e ritmos em cada cena e, consequentemente, no filme ou série. É a forma como o diretor conta sua história visualmente. 

Se na literatura a escolha das palavras, as divisões em parágrafos, a pontuação e o uso de figuras de linguagem, entre outros elementos próprios da escrita, são a base para a construção de uma jornada do herói envolvente e original, os movimentos de câmera e o enquadramento cumprem uma parte dessa função no cinema. 

Quais são os movimentos de câmera?

Quem aí nunca ouviu um diretor falar em zoom, panorâmica ou travelling quando explica uma sequência de seu filme? Pois eles são todos movimentos que a câmera faz para dar ritmo à ação em foco. 

Mas o que esses nomes significam? É sobre o que vamos falar agora:

Panorâmica

Quando a câmera faz um passeio horizontal tendo seu tripé fixo, essa movimentação é chamada de panorâmica. É ideal para mostrar a vastidão de uma praia ou  para acompanhar um carro no centro do quadro enquanto ele se desloca tranquilamente numa estrada deserta, ou para criar uma sensação de pressa quando em alta velocidade (a chamada whip pan ou swish pan). 

Na sequência inicial de Cidadão Kane (direção de Orson Welles, 1941), que inovou a linguagem cinematográfica lançando mão de novas formas de usar os movimentos de câmera, os pequenos trechos sobrepostos em que aparecem as grades da casa são panorâmicas curtas:

Se for feita na vertical, como no exemplo acima, existem variações na nomenclatura: há quem a chame simplesmente de panorâmica vertical, traduzindo diretamente para o português, ou quem use a versão em inglês, tilt. Novamente aqui a câmera se move, mas o tripé continua parado em sua base. É essa base estática que diferencia a panorâmica do travelling, que vamos ver na sequência.

  • Travelling

  • O travelling é o uso da câmera em total movimento, com uma base móvel que pode ser tanto o tripé acoplado a um carrinho (dolly) ou carregado pelo próprio cinegrafista. Ele pode seguir uma paisagem ou um personagem específico. Um exemplo magistral de travelling é a sequência inicial de Boogie Nights (direção de Paul Thomas Anderson, 1997).



    Se a ideia é que a imagem seja suave e limpa, numa câmera objetiva (em que ela não representa a visão de alguém fora do quadro) o cinegrafista usa um
    steadycam, colete com um suporte que estabiliza o movimento da câmera. Hoje existem vários opções de equipamentos de estabilização que suportam desde câmeras 35mm até celulares.

    No uso da câmera subjetiva, caso da cena em que o chimpanzé recorda seu trauma em Quero Ser John Malkovich (direção de Spike Jonze, 1999), como a cena representa a visão de um personagem, pode-se operar a câmera diretamente na mão, o que é chamado de “câmera nervosa”, pelas tremidas incorporadas à imagem.

    O dolly pode ser tanto solto e movimentado de acordo com a operação do próprio cameraman quanto pode correr num trilho de trajetória previamente estabelecida, o que aumenta o controle do percurso que a câmera vai captar.

    Para travellings amplos que usam deslocamento vertical e diagonal, o equipamento necessário é a grua, um guindaste de metragem variada em que a câmera é acoplada. Mas com o advento dos drones, hoje em dia é possível fazer imagens aéreas de grandes distâncias usando o equipamento.

  • Zoom - ou movimento da lente da câmera

  • Sabe quando a câmera se aproxima ou se afasta do ator ou do cenário durante uma cena? A esse movimento dá-se o nome do zoom. Ele é feito com a câmera parada e uma lente especial, que controla a proximidade da imagem sem perder o foco.

    Quando o zoom é feito no sentido de aproximação do objeto enfocado, é chamado zoom-in, muito usado para criar um clima de tensão e urgência. Ao contrário, quando se afasta, é o zoom-out

    Um ótimo exemplo de uso do zoom, tanto aproximando quanto se afastando da cena, é um trecho da sequência final do clássico Casablanca (direção de Michael Curtiz, 1942), em o vai-e-vem de emoções das personagens de Ingrid Bergman e Humphrey Bogart é evidenciado pela movimentação da lente:

    Alfred Hitchock, em Um Corpo que Cai (1958), inventou um efeito surpreendente ao combinar o movimento de dolly com o zoom, que ficou consagrado como efeito Vertigo (nome original do longa). Repare na última cena do trailer do filme, em que James Stewart olha para baixo quando está pendurado na beira do telhado:


    E o enquadramento?

    Fique tranquilo: se você curtiu este texto sobre os movimentos de câmera, logo mais vamos explicar pra que serve o enquadramento. Lembrando que esses termos não são da alçada do roteirista, que vai se preocupar com a história a ser contada, mas do diretor e, se houver, do diretor de fotografia. 

    Claro que se for um diretor-roteirista, ele vai ter mais clareza de como pretende transformar sua história em imagem em movimento. Mas isso também é assunto para um outro post.

    Quer fazer um filme? Vem com a gente

    Entre os mestres Navega, dois diretores roteiristas contam de forma envolvente um pouco desse processo de transformação de uma história escrita numa obra audiovisual: Anna Muylaert e Esmir Filho

    Anna faz um apanhado de todo o processo de realização de um filme ou série partindo de sua experiência em filmes como Que Horas Ela Volta? (2015). 

    Já Esmir, diretor de Verlust (2020) e da série do Netflix Boca a Boca (2020), recebe convidados de peso para falar de roteiro e direção: Laís Bodanzky (longa adaptado), Hilton Lacerda (longa original), Juliana Rojas (curta-metragem), André Novais (formato híbrido) e Ana Luiza Azevedo (série). 

    Dê um salto de criatividade e inovação cinematográfica aprendendo o passo a passo com quem tem carreiras premiadas e experiência no mercado.